Diocese de Anápolis

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Corpus Christi 2012

Projeta-se a luz na humanidade: Jesus Cristo

 

Dos vários raios de luz que saem do Santíssimo Sacramento da Eucaristia, gostaria de ressaltar um deles, o da verdade. Cristo disse de si mesmo: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). Ele se fez presente entre nós na Eucaristia e se ofereceu em alimento para que tivéssemos acesso a essa verdade, pois no cristianismo a verdade é uma pessoa: Jesus Cristo. À luz do seu ensinamento conhecemos a verdade sobre o homem, sobre o mundo, sobre Ele mesmo. “Conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres” (…)

Pilatos, ao encontrar-se diante de Jesus, expressou num só ato duas realidades presentes no ser humano: a busca da verdade e ao mesmo tempo o medo que as pessoas experimentam diante da verdade sobre si mesmas e sobre Deus. Lembremo-nos daquela passagem da Escritura na qual se diz que Pilatos, depois de perguntar a Jesus o que é a verdade, não esperou a resposta nem quis continuar perto de Jesus: “Disse-lhe Pilatos: “Que é a verdade?…” Falando isso, saiu de novo, foi ter com os judeus” (Jo 18,38). Realmente, fazer um compromisso com a verdade e manter-se fiel a ela não é nada fácil.

No dia de hoje, Jesus vem projetar, através dos ostensórios que as comunidades levam pelas ruas das suas paróquias, e através dessa celebração eucarística, os raios da sua verdade na nossa sociedade anapolina, brasileira, mundial. Ele quer dizer-nos o que é a verdade e fazer com que andemos segundo o que há de mais autêntico em nós mesmos.

Os nossos tempos tem muito a ver com as teorias de um filósofo alemão chamado Nietzsche (1844-1900), um pensador controverso que conseguiu influenciar a humanidade com suas teorias. Para este filósofo, os verdadeiros valores são o inverso, ou contrário, daqueles que nós consideramos como valores: bom para ele seria a maldade em lugar da compaixão, a libertinagem em lugar da moderação e da castidade, o ódio em lugar do amor. Ele, consciente do que filosofava, falou de si mesmo o seguinte: “o meu nome estará ligado um dia à recordação de uma crise terrível que nunca houve na terra”. Nós, hoje, vivemos esta crise da inversão dos valores.

Para levar a cabo os seus novos valores, Nietzsche sabia que era necessário tirar Deus do coração e da mente dos seres humanos. Quando Deus desaparecesse do coração do homem, o homem já não estaria submetido a ninguém, seria suficiente a si mesmo, seria senhor de si mesmo, um super-homem. Efetivamente, Nietzsche proclamou a “morte” de Deus e, consequentemente, a vinda do super-homem e sua autonomia moral: tudo é permitido! O autor russo Dostoievski expressou muito bem o pensamento do filósofo alemão: “se Deus não existe, tudo está permitido”. Também Confúcio, seis séculos antes de Cristo, já havia dito que “caso não se respeite o sagrado, nada se tem onde fixar a conduta dos seres humanos”.

É fato: os tempos modernos são marcados pelo fenômeno de ateísmo, de não crer em Deus, de não levar Deus em conta. As culturas antigas sempre foram religiosas, expressão daquela religiosidade natural que está no coração do homem. O homem sempre foi e será um ser religioso. Ele tende para Deus. O seu coração – como dizia Santo Agostinho – não descansará enquanto não repousar no seu criador e redentor.

O filósofo Nietzsche morreu no início do século XX. Mas suas ideias não morreram. Depois dos horrores das duas guerras mundiais, que causaram uma descrença e um vazio nos corações, os anos 60 do século XX trouxeram um triunfo das ideias de Nietzsche. Eram tempos de contestação, de contradizer tudo o que era vigente até agora. Abandonou-se os velhos valores de uma sociedade marcada por uma ideia do homem e da mulher segundo a razão e segundo o Evangelho. A educação, a sexualidade e o prazer seriam os campos de batalha principais dos novos valores. Como não identificar alguns dos slogans de maio de 68 com os novos valores profetizados por Nietzsche? “A anarquia sou eu”, “a emancipação do homem será total ou não será”, “teremos um bom mestre desde que cada um seja o seu”, “Consuma mais, viva menos”, foram algumas daquelas frases marcantes que ainda soam nos nossos ouvidos e andam como que heróis pelas nossas ruas.

O preocupante é que as pessoas, inclusive nós, acolhem estes novos modelos de vida como realmente corretos, válidos e até obrigatórios. E o que acontece? Aquilo que fazemos, nós nos tornamos. Cada ação que as pessoas realizam configura as suas vidas. Por exemplo, uma pessoa que mata não comete simplesmente um assassinato, mas ela mesma passa ser um homicida. Uma pessoa que se droga, não comete apenas uma ação isolada, pois pode tornar-se um drogado. Uma pessoa que realiza obras de misericórdia se transforma numa pessoa misericordiosa. Ou seja, as nossas ações mexem com o nosso ser e em cada ação que nós realizamos nos estamos transformando ou num ser celestial ou num ser infernal, nos estamos transformando em pessoas boas ou em pessoas más.

A cultura moderna, pelo menos na prática, vive como se Deus não existisse, como se estivesse morto, e como se o homem fosse um super-homem independente e autossuficiente. Mas, a negação de Deus leva à negação do homem, do sentido do seu ser e seu viver. Isto tem sido uma das causas de tantas depressões, stress, pânicos e das mais variadas doenças da psique humana. Como viver em sociedade se não se respeita Deus e os seus valores? Simples, – dizem alguns – fazendo leis civis que garantam uma convivência respeitosa. Mas, as leis, desvinculadas da verdadeira raiz do ser humano, levam ao fracasso e a caos social. Se cortarmos uma árvore separando-a das suas raízes, ela morre. Se se separa o homem das suas raízes da racionalidade e das suas origens divinas, ele nunca será feliz e realizado.
Alguns poderão pensar que estou exagerando. Não! Experimentamos isso na prática, bem próxima a nós. Cito como exemplo a banalização da vida humana na escalada de violência em todos os sentidos e ambientes, a exaltação da liberdade sem falar nada da responsabilidade, de consumismo deixando em silêncio a solidariedade e partilha, a corrupção no mundo da política, a arbitrariedade dos magistrados, a politização da justiça, a redução da sexualidade a puro e casual prazer, desvinculado do amor responsável e duradouro, a insistente tentativa de aprovar o aborto, a qualificação das uniões homo afetivas como matrimônio e família, as uniões livres sem intenção de ser família, a corrupção de menores. Nas escolas públicas, os Ministérios da Saúde e da Educação estão distribuindo às crianças e aos adolescentes cartilhas sobre os cuidados com a saúde. De um lado trazem orientações validas e necessárias. Mas, infelizmente, na parte da orientação sexual acentuam apenas o direito dos adolescentes ao prazer e como praticar o chamado “sexo seguro”. Sabemos que isso, na idade de crescimento e de curiosidade é simplesmente algo explosivo. Não há uma palavra sobre a maturidade do corpo e da mente, sobre a vocação para a família, sobre a dignidade do corpo humano, sobre a delicadeza dos sentimentos. E ainda, fazem dessa cartilha uma espécie de passaporte para o sistema de saúde pública. É preciso dizer que isso, sob a aparência de proteção, é indução de menores a pratica de atos que se voltam contra eles mesmos e contra a sociedade. Não é bem uma educação.

É esta cultura que revela o homem que sepultou os valores, se tornou super-homem e diz ter matado Deus. A esta cultura o Beato Papa João Paulo II chama de “cultura da morte”. 
O que fazer para gerar uma “cultura da vida” e a verdade libertadora sobre o homem? 
Acompanhar àquele outro filósofo do século IV, Diógenes, que, segundo se diz, andava com uma lanterna na mão em pleno dia repetindo uma frase que expressava tão bem o seu pensamento: “procuro um homem”. Ele procurava um homem que vivesse sua vida superando as exterioridades exigidas pelas convenções sociais como comportamento, dinheiro, luxo ou conforto. Ele buscava um homem que tivesse encontrado a sua verdadeira natureza, que vivesse conforme ela e que fosse feliz.
A Igreja Católica parece estar nessa situação: ela é portadora de uma vela acessa, e, dia e noite, vai por todos os rincões dizendo a todos: “procuro um homem, procuro uma mulher”.

Por causa da sua missão evangelizadora a Igreja continua afirmando que o matrimônio é a união de um homem e uma mulher de maneira estável e aberta à vida; que a família é base da sociedade; que os primeiros educadores dos seus filhos são os pais e que o Estado tem tão somente uma função subsidiária junto aos pais; que todos têm direito à vida, também as crianças chamadas defeituosas ou geradas num ato criminoso; que o aborto é um atentado contra a humanidade; que não se pode promover, em nome da liberdade, a promiscuidade através de campanhas massivas de preservativos e de material de instrução sexual equivocada.

Gostaria que muitos católicos fizessem eco dessa mensagem, assumindo a sua condição de cristãos leigos. Ninguém pode calar a voz dos cristãos. Nós somos cidadãos como quaisquer outros. Também temos o direito de manifestar as nossas convicções nessa sociedade pluricultural.

Contudo, queremos deixar bem claro que tais convicções no que diz respeito à vida, à família e aos valores humanos não têm suas raízes somente em conceitos religiosos. Trata-se de verdades que brotam do coração do homem, da sua natureza, estão inscritas no próprio ser homem e mulher. É sobre essas verdades naturais que a Igreja, como portadora da verdade de Deus, projeta a luz divina para que se veja melhor que o homem tem uma vocação, tem sentido, está chamado à felicidade.
Dizia o Beato João Paulo II no começo do seu pontificado: “abri, escancarai as portas a Cristo”. Também eu gostaria de dizer a todos: “abri, escancarai as portas a Cristo”. Se abrirmos o nosso coração a Jesus, à sua luz, veremos como a nossa sociedade será muito mais feliz porque será verdadeira, autêntica.

Maria Santíssima nos ajude a descobrir o seu Filho Jesus Cristo, hoje adorado na Eucaristia. Dessa maneira descobriremos também a verdadeira face do homem que brilha no rosto de Jesus e veremos também a altíssima dignidade do ser humano e sua vocação sobrenatural à felicidade, à divinização, à eternidade.Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Dom João Wilk
07/06/2012

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