Diocese de Anápolis

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Homilia – Ordenação Sacerdotal Frei Jair – 2013

14/09/2013

Sacerdote – Testemunha da Cruz

Caríssimos irmãos e irmãs em Cristo.
Querido Frei Jair Ferreira da Cruz, OFM.

1. A Igreja celebra hoje, com liturgia festiva, a Exaltação da Santa Cruz. Foi instituída após a construção da grandiosa basílica erguida em Jerusalém por Santa Helena, mãe do imperador romano Constantino, convertido ao cristianismo. Segundo afirma a tradição, foi levada em procissão para a nova basílica a mesma cruz sobre a qual morreu Nosso Senhor.

Assim, na milenar tradição da Igreja, nós hoje voltamo-nos para a cruz e contemplamos o mistério que ela representa: dom do amor para a nossa salvação.

Na primeira leitura, do Livro dos Números, ouvimos a história do povo israelita na difícil travessia do deserto do Sinai, rumo à Terra Prometida. Entre o povo havia sentimentos variados: de esperança, de confiança na liderança de Moisés e, infelizmente, de frustração, de murmuração, de revolta contra Moisés e seu Deus. O povo sofreu castigo: foi atingido por mordidas de serpentes venenosas. Então, em sinal de misericórdia, Deus ordenou que Moisés colocasse, no meio do acampamento, sobre uma haste, uma serpente de bronze. Quem olhasse para esta serpente, ficaria curado das mordidas venenosas.

A serpente é uma figura, um símbolo. Foi a serpente (diabo) que da árvore do paraíso, que seduziu Adão e Eva a pecar. Foi o pecado de desobediência, de desconfiança em Deus, no seu amor, na sua sinceridade. A haste é o símbolo daquela árvore da morte. Mas, a serpente de bronze representa uma novidade: alguém outro, Jesus Cristo, o Filho de Deus, a atrair a humanidade à confiança em Deus e lhe oferecer a vida, pela cura do veneno infernal.

A cruz, para os cristãos, tornou-se símbolo do amor redentor de Deus pela humilde e obediente entrega do Seu Filho à morte na cruz. Diz São Paulo na Carta aos Filipenses: “Humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz. (…) Assim, ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda língua proclame: Jesus Cristo é o Senhor”.

Sim, hoje os nossos olhos e os corações se voltam para a cruz de onde nos veio a salvação. Nossos joelhos se dobram em gesto de gratidão e de adoração. A nossa alma reconhece Jesus como Senhor e Salvador. Com São Francisco de Assis, repetimos: “Nós vos adoramos Santíssimo Senhor Jesus Cristo, aqui e em todas as vossas igrejas que estão no mundo inteiro e vos bendizemos, porque pela vossa santa cruz remistes o mundo”.

Foi no sacrifício da cruz que Cristo se tornou Sumo e Eterno Sacerdote. Reconciliou definitivamente a humanidade pecadora com Deus. Foi na cruz que se completou a antiga promessa de Deus dada ao povo escolhido. Foi na cruz que foi selada a Nova e Eterna Aliança. Pela cruz foi formado o novo povo de Deus, a Igreja, da qual nós somos parte como pedras vivas.

O sacrifício de Jesus na cruz, uma vez consumado, é eterno. Vale para todos e para sempre. Não é um ato inscrito num momento da história. É um ato único, mas não isolado. É continuo, renova-se constantemente sobre os altares das nossas igrejas.

Este Jesus, Sumo e Eterno Sacerdote, para perpetuar o seu sacrifício redentor instituiu o sacerdócio da Nova Aliança e associou a si os homens que ele mesmo chama e consagra.

2. Estamos celebrando o rito da ordenação sacerdotal do Frei Jair, da ordem dos Frades Menores. Um jovem, escolhido e chamado do meio do povo, é ungido e consagrado como sacerdote de Jesus Cristo. A sua principal característica é ser “outro Cristo” no meio do povo. A sua principal tarefa é oferecer sobre o altar, a favor de todo o povo, o santo Sacrifício Eucarístico, pelo qual se torna presente e atual o único Sacrifício de Jesus. A sua principal característica de vida é configurar-se a Cristo, para que Cristo se torne realidade nele e ele se torne a imagem viva do Cristo Redentor para os outros.

Entre outras atribuições do sacerdote, como ser ministro da Palavra, administrador dos bens espirituais pelos sacramentos, construtor e guia da comunidade, o aspecto sacrificial é o mais importante. São Francisco de Assis, do qual Frei Jair é discípulo e filho espiritual, teve uma grande estima pelos sacerdotes, exatamente por causa do altar no qual eles renovam o sacrifício da cruz e tornam presentes o Corpo e o Sangue do Senhor. “O Senhor me deu tanta fé nos sacerdotes que vivem segundo a forma da santa Igreja Romana, por causa das suas ordens, que, mesmo que me perseguissem, quero recorrer a eles. (…) Nem quero olhar para o pecado deles porque neles reconheço o Filho de Deus e eles são meus senhores. E procedo assim porque do mesmo altíssimo Filho de Deus nada enxergo corporalmente neste mundo senão o seu santíssimo corpo e sangue, que eles consagram e somente eles administram aos outros.” (Test, 3).

A Igreja se alegra hoje por este nosso irmão Frei Jair. Alegra-se também a Ordem Franciscana, na qual Frei Jair quis realizar a sua consagração a Cristo. Alegra-se a comunidade paroquial de Teresópolis – GO, que vê seu primeiro fruto da fé e da devoção, em forma de sacerdote. Alegra-se a sua família, pois recebe de Deus uma bênção especial, tendo entre os seus membros aquele que é “outro Cristo”.

Caro irmão Frei Jair, nós todos somos agradecidos a Deus pelo seu “sim”. Mas, somos também confiantes na sua total entrega a Deus, à Igreja, aos homens e mulheres e a toda a criatura. Seja forte e perseverante na decisão, na medida em que o mundo de hoje espera e exige. Tenha sempre viva a consciência de que ser seguidor de Cristo significa carregar a sua cruz, viver o estado da morte de Cristo na própria carne. Viva com alegria e empenho o maravilhoso carisma de São Francisco de Assis. Seja disposto a ser, em cada momento e em cada ato, testemunha e instrumento do amor crucificado de Deus.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Dom João Wilk, OFMConv.
Bispo de Anápolis

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